JK – A verdade dói, mas tem que ser dita.
Na realidade foi o presidente que esbanjou a maior quantidade de dinheiro do país até hoje em um projeto não produtivo. O processo de industrialização do Brasil já havia se iniciado com a fundação da CSN e da Belgo Mineira, nos anos 40, não com o JK. E nem mesmo a indústria automobilística foi criada por JK.
E JK abraçou para si os louros que o defunto Getúlio Vargas não podia defender como seus, pois já havia se suicidado. A grande “realização” de JK foi Brasilia – sem dúvida, um dispêndio faraônico que iniciou o processo de dependência endêmico do Brasil na dívida externa, e que não trouxe benefícios para a grande maioria do povo brasileiro – embora tenha enriquecido um sem número de asseclas de JK, entre os quais o mineiro Sebastiao Camargo (Camargo Correia) e diversos reizinhos do mercado imobiliário brasiliense. A aventura candanga foi em grande parte financiada com dinheiro emprestado no exterior, que não deu retorno até hoje. Brasilia foi durante tanto tempo tão inútil, que até recentemente havia mais servidores públicos federais no Rio de Janeiro do que lá. O mal de Brasilia não foi tanto o fato de ter sido construída, mas sim a pressa com que foi concluída. Para um país sem recursos próprios como o Brasil, a sua construção durante um mandato de um único presidente foi loucura.
Para piorar, a má gestão da política cambial fez com que o nível das exportações caísse, ao invés de aumentar, apesar da “pujança”. Aí iniciou-se a derrocada mais séria do Brasil no campo externo, inclusive um histórico longo de relacionamento amor/ódio com o FMI. Se JK animou o povo brasileiro com a idéia de progresso, criou no exterior o esteriótipo de brasileiro trambiqueiro que perdura até hoje.
Curiosamente, muitos que defendem com unhas e dentes o JK, culpam os militares pela questão da dívida externa e culpam FHC de ter sucateado o patrimônio do povo brasileiro. Situação ambígua e curiosa: consideram patrimônio do povo um sem número de estatais criadas durante o regime militar, assim reconhecendo o caráter de investimento com valor venal razoável. Ou seja, os militares teriam endividado o país, sim, só que fizeram investimentos que valeram realmente alguma coisa: criando empregos no país inteiro, criando empresas que hoje em dia lideram as exportações brasileiras.
E o nosso querido JK? Criou o mico que é Brasilia, enriqueceu alguns compadres seus, e nem mesmo a indústria automobilistica, que supostamente teria criado, foi criada por ele. Não há dúvida também de que a precária situação em que JK deixou o Brasil eventualmente levou à revolução militar, ao criar um clima econômico de impossível administração.
JK E O FMI
Depois de pedir uma montanha de dinheiro emprestado no exterior para construir a sua Brasilia, JK, vendo que não daria para pagar os empréstimos, e procurando acumular dividendos políticos para uma futura reeleição (que nunca oocorreu) deu uma de machão perante os cliques das cameras e acintosamente mandou o FMI às favas. Com isso foi o primeiro presidente brasileiro a usar a TV como meio de promoção. O povo adorou, só faltou canonizar o JK. Por trás das portas, JK acionou o seu Embaixador em Washington, o banqueiro mineiro Walter Moreira Salles (futuro Unibanco) para pedir desculpas, e costurar um acordozim, ganhar tempo e passar a bola pro coitado do seu sucessor, que acabou sendo Janio Quadros. Este, um tanto idiossincrásico, mas de burro não tinha nada, caiu fora antes que Brasilia explodisse e deixou a batata quentinha na mão do caudilhesco João Goulart. Este se enamorava com a U.R.S.S., e achava que poderia efetivar o calotaço sem grandes consequências. Sem dúdiva, uma das grandes razões do Golpe de 64.
Um pouco de folclore
Nem tudo foi róseo no governo JK e alguns acontecimentos, pelo inusitado das situações criadas, acabaram se tornando folclóricos.
Um deles, foi a compra do porta-aviões Minas Gerais. Pura sucata, imprestável para o uso, foi descartado pela Inglaterra por um preço muito superior ao que realmente valia, se é que valia alguma coisa. Ainda por cima, foram necessários reparos nos estaleiros brasileiros, que nos custaram uma pequena fortuna.
A idéia era agradar Marinha e Aeronáutica, mas acabou por criar uma disputa feroz sobre quem devia comandar o navio. "É um porta-aviões, portanto o comando deve ser da Aeronáutica", diziam uns. No lado oposto outros replicavam: "Serve de pouso a aviões, é verdade, mas está dentro da água, e água é exclusividade da Marinha".
A discussão se tornou tão acalorada que já estava ameaçando trazer uma desavença entre as duas forças. Finalmente chegaram a um consenso. As operações de manobras aéreas ficariam sob o comando da Aeronáutica e as manobras de navegação do porta-aviões permaneceriam sob o comando da Marinha. Uma e outra força agiriam em harmonia, dentro de um objetivo comum. Um "ovo de Colombo". Como não haviam pensado nisso antes?
Terminada a "guerra", o compositor Juca Chaves ironizou o assunto em uma de suas músicas:
"O Brasil já vai à guerra, comprou porta-aviões.
Dois vivas pra Inglaterra, 82 milhões! Mas que ladrões!
Porém há uma peninha: de quem é o porta-aviões?
‘É meu! diz a Marinha; ‘é meu!’ diz a aviação.
Ah! Revolução!"
Dois vivas pra Inglaterra, 82 milhões! Mas que ladrões!
Porém há uma peninha: de quem é o porta-aviões?
‘É meu! diz a Marinha; ‘é meu!’ diz a aviação.
Ah! Revolução!"
Contras do governo JK
O desenvolvimento, representado na expressão "50 anos em 5", deixou uma lacuna, a maior e mais grave de todas, que alimentou os críticos de Juscelino: seu governo criou uma classe média forte mas aumentou a miséria do proletariado. O grande desafio brasileiro, que é a redenção dos humildes, não se concretizou no governo JK e diga-se, a bem da verdade, também não mereceu a atenção dos governos seguintes.
A implantação de indústrias altamente especializadas favoreceu o pessoal técnico e empobreceu o trabalhador braçal. O desenvolvimento se deu nos grandes centros industriais, fazendo piorar as condições de vida nos sertões brasileiros e aumentando escandalosamente a desigualdade de renda. A inflação gerada para a expansão das indústrias de base e a construção de Brasilia atingiu em cheio os menos favorecidos, que não tem como defender os poucos tostões que consegue amealhar em seu duro trabalho.
A modernização também não foi um fator de assentamento das populações em suas raízes, muito pelo contrário. Atraída pelo sonho, a população rural passou a migrar com maior intensidade para os centros de progresso, inchando as grandes cidades e iniciando um processo de favelização que nunca mais foi estancado.
São Paulo é um exemplo disso. Sua primeira favela, a de Vila Prudente, surgiu nos anos 50, como um processo temporário de assentamento. O problema não foi equacionado e as favelas começaram a se multiplicar como um câncer. Ao contrário do Rio de Janeiro, onde a favelização obedece a uma certa ordem, em São Paulo os barracos são erguidos indiscriminadamente, em qualquer canto disponível, sob viadutos, à margem de córregos imundos ou em qualquer ponto que se encontre próximo aos locais de trabalho.
Outro caso é o de Brasília. Os "candangos" que construíram a cidade não estavam nos planos da Novacap e, ao concluir a obra, uma vez dispensados, deveriam retornar aos seus pontos de origem. Recusaram-se a fazê-lo. A exuberante capital não era um simples local de trabalho, era o seu orgulho, a sua alma, a sua vida. Transformando-se em questão de fato, essa disposição dos operários em permanecer deu origem não só às cidades satélites, núcleos de miséria, como até a favelas construídas à volta do majestoso avião desenhado pelo arquiteto Lúcio Costa.
O governo JK trouxe a riqueza mas não extinguiu a miséria. Desenvolveu os grandes centros mas empobreceu o restante do país. Suas estradas uniram os pontos geográficos mas, longe de levar o progresso, serviram tão só para escoamento de grandes e contínuas levas de migrantes, rumo ao sudeste, em busca de um sonho.
O resgate do povo brasileiro não se deu no governo de Juscelino e as grandes massas ainda esperam por quem promova sua redenção. É o sebastianismo, presente na alma brasileira, que lhe sustenta a fé e lhe traz alento para caminhar em busca do futuro.
Para concluir. Deixando a Presidência, JK elegeu-se senador mas foi cassado pelo governo Castelo Branco, tendo seus direitos políticos suspensos por dez anos, com o que passou a viver no exílio, em Nova York e Paris.
Não teve dos governos militares o respeito que merecia. Tendo de vir ao Brasil para acompanhar o velório de um familiar, foi detido e submetido a um intenso interrogatório que se estendeu por várias horas, comprometendo sua saúde, já abalada com problemas cardíacos. Foi preciso que políticos influentes agissem junto às autoridades para que ele fosse enviado de volta ao exílio.
Autorizado a voltar ao país, passa a escrever suas memórias, mas não consegue vê-las publicadas. Em 22 de agosto de 1976, JK perde a vida em um estranho acidente automobilístico próximo a Resende (Rodovia Presidente Dutra) o qual, na opinião de alguns, nunca foi convincentemente explicado. Com ele, sela-se o destino de um dos maiores vultos da República, cuja presença na história brasileira é hoje assinalada com o "Memorial JK", a última homenagem de Oscar Niemeyer ao seu chefe e amigo.
http://www.pitoresco.com/historia/republ306.htm